domingo, 9 de março de 2014

TEXTOS SOBRE A LÍNGUA PORTUGUESA

Saudade
É uma palavra
Saudade
Só existe na língua portuguesa
Saudade de Val vendendo pó na esquina
Saudade do que nunca vai voltar

E dos amigos que se foram
Eu hoje estou com saudade
Na noite quente e no calor
Que sobe do asfalto
Saudade quente
Saudade da roda de cerveja
Dos amigos da madruga e
Saudade de nadar no mar
E um dia ter sido mais puro
Saudade da primeira namorada
E namorado também
Saudade, principalmente
Da irresponsabilidade
Saudade, meus amigos
Daqui a pouco vou estar com vocês.
Cazuza

A língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,

entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.
Carlos Drummond de Andrade
A língua girava no céu da boca

A língua girava no céu da boca. Girava! Eram duas bocas, no céu único.

O sexo desprendera-se de sua fundação, errante imprimia-nos seus traços de cobre. Eu, ela, ela, eu.

Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu. A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava. Consumia-nos em piscina de aniquilamento. Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino, vulva e fálus em fogo, em núpcias, emancipados de nós.

A custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo, se restituíram à consciência. O sexo reintegrou-se. A vida repontou: a vida menor.


Extraído do livro "O amor natural", Editora Record – RJ, 1992, pág. 29.
Carlos Drummond de Andrade
Lobos? São muitos.

Mas tu podes ainda

A palavra na língua

Aquietá-los.


Mortos? O mundo.

Mas podes acordá-lo

Sortilégio de vida

Na palavra escrita.


Lúcidos? São poucos.

Mas se farão milhares

Se à lucidez dos poucos

Te juntares.


Raros? Teus preclaros amigos.

E tu mesmo, raro.

Se nas coisas que digo

Acreditares.
Hilda Hilst

Ainda que eu falasse a língua dos homens, e falasse a língua dos anjos, sem amor, eu nada seria.
Renato Russo

"As palavras proferidas pelo coração
não tem língua que as articule,
retém-nas um nó na garganta e só
nos olhos é que se podem ler."
José Saramago

Gosto de sentir minha língua roçar
A língua de Luís de Camões
Gosto de ser e estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia esta para a prosa
Assim como o amor esta para a amizade
E quem ha de negar que esta lhe é superior
E deixa os portugais morrerem a míngua
"Minha pátria é minha língua"
Fala mangueira!
Fala!
Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos sufistas
Sejamos imperialistas
Vamos na velô de dicção chao chao de Carmem Miranda
E que Chico Buarque de Holanda nos resgate
E -xeque-mate- explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da teve globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
(...)
Flor de Lácio Sambódromo
Lusamérica Latim em pó
O que quer
O que pode
Esta lÍngua?
(...)
Caetano Veloso

Nada é tão flexível como a língua da mulher, nada é tão pérfido como os seus remorsos, nada é mais terrível do que a sua maldade, nada é mais sensível do que as suas lágrimas.
Plutarco

Eu sei de que maneira pródiga a alma empresta / Juramentos à língua quando o sangue arde.
William Shakespeare

Manejar sabiamente uma língua é praticar uma espécie de feitiçaria evocatória.
Charles Baudelaire

Uma voz não pode transportar a língua e os lábios que lhe deram asas. Deve elevar-se sozinha no éter.
Khalil Gibran

Se o poeta fosse casto nos seus costumes, os seus versos também o seriam. A pena é a língua da alma: como forem os conceitos que nela se conceberem, assim serão os seus escritos.
Miguel de Cervantes

LÍNGUA PORTUGUESA - A ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO

Língua PortuguesaÚltima flor do Lácio, inculta e bela, 
És, a um tempo, esplendor e sepultura: 
Ouro nativo, que na ganga impura 
A bruta mina entre os cascalhos vela 
Amo-se assim, desconhecida e obscura 
Tuba de algo clangor, lira singela, 
Que tens o trom e o silvo da procela, 
E o arrolo da saudade e da ternura! 
Amo o teu viço agreste e o teu aroma 
De virgens selvas e de oceano largo! 
Amo-te, ó rude e doloroso idioma, 
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!", 
E em que Camões chorou, no exílio amargo, 
O gênio sem ventura e o amor sem brilho! 

Olavo Bilac, in "Poesias"

sábado, 8 de março de 2014

REGRAS DE COLOCAÇÃO PRONOMINAL

COLOCAÇÃO PRONOMINAL
O pronome pessoal é do caso reto quando tem função de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo quando desempenha função de complemento. Vamos entender, primeiramente, como o pronome pessoal surge na frase e que função exerce. Observe as orações:

1. Eu não sei esse conteúdo, mas alguém irá me ajudar.
2. Ana foi embora para casa, pois não sabia se devia ajudá-lo.

Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele” exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso reto. Já na segunda oração, observamos o pronome “lhe” exercendo função de complemento, e consequentemente é do caso oblíquo.
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso, o pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se devia ajudar.... Ajudar quem? Você (lhe).
Importante: Em observação à segunda oração, o emprego do pronome oblíquo "lhe" é justificado antes do verbo intransitivo "ajudar" porque o pronome oblíquo pode estar antes, depois ou entre locução verbal, caso o verbo principal (no caso "ajudar ") estiver no infinitivo ou gerúndio. 
Exemplo: Eu desejo lhe perguntar algo. 
Eu estou perguntando-lhe algo.

Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição, diferentemente dos segundos que são sempre precedidos de preposição.
Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que eu estava fazendo.
Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim o que eu estava fazendo.

Colocação pronominal 

De acordo com as autoras Rose Jordão e Clenir Bellezi, a colocação pronominal é a posição que os pronomes pessoais oblíquos átonos ocupam na frase em relação ao verbo a que se referem.

São pronomes oblíquos átonos: me, te, se, o, os, a, as, lhe, lhes, nos e vos.
O pronome oblíquo átono pode assumir três posições na oração em relação ao verbo:
1. próclise: pronome antes do verbo
2. ênclise: pronome depois do verbo
3. mesóclise: pronome no meio do verbo

Próclise 

A próclise é aplicada antes do verbo quando temos:

• Palavras com sentido negativo:
Nada me faz querer sair dessa cama.
Não se trata de nenhuma novidade.
• Advérbios:
Nesta casa se fala alemão.
Naquele dia me falaram que a professora não veio.
• Pronomes relativos:
A aluna que me mostrou a tarefa não veio hoje.
Não vou deixar de estudar os conteúdos que me falaram.
• Pronomes indefinidos:
Quem me disse isso?
Todos se comoveram durante o discurso de despedida.
• Pronomes demonstrativos:
Isso me deixa muito feliz!
Aquilo me incentivou a mudar de atitude!

• Preposição seguida de gerúndio:
Em se tratando de qualidade, o Brasil Escola é o site mais indicado à pesquisa escolar.
• Conjunção subordinativa:
Vamos estabelecer critérios, conforme lhe avisaram.

Ênclise

A ênclise é empregada depois do verbo. A norma culta não aceita orações iniciadas com pronomes oblíquos átonos. A ênclise vai acontecer quando:

• O verbo estiver no imperativo afirmativo:
Amem-se uns aos outros.
Sigam-me e não terão derrotas.
• O verbo iniciar a oração:
Diga-lhe que está tudo bem.
Chamaram-me para ser sócio.
• O verbo estiver no infinitivo impessoal regido da preposição "a":
Naquele instante os dois passaram a odiar-se.
Passaram a cumprimentar-se mutuamente.
• O verbo estiver no gerúndio:
Não quis saber o que aconteceu, fazendo-se de despreocupada.
Despediu-se, beijando-me a face.
• Houver vírgula ou pausa antes do verbo:
Se passar no vestibular em outra cidade, mudo-me no mesmo instante.
Se não tiver outro jeito, alisto-me nas forças armadas.

Mesóclise 

A mesóclise acontece quando o verbo está flexionado no futuro do presente ou no futuro do pretérito:

A prova realizar-se-á neste domingo pela manhã.
Far-lhe-ei uma proposta irrecusável.
Por Sabrina Vilarinho
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola

Exercício
1: Substituindo o termo grifado pelo pronome átono correspondente, marque a alternativa em que houve erro na colocação pronominal.
A) 
Entreguei O BILHETE AO GUARDA. Entreguei-LHO.
B) 
Ninguém exigiu-ME O SEGREDO. Ninguém exigiu-MO
C) 
Dariam UM PRÊMIO AO VENCEDOR. Dar-LHO-iam.
D) 
Meu irmão NOS emprestou a bicicleta. Meu irmão NO-LA emprestou.
2:Assinale a alternativa correta quanto à colocação do pronome.
A) 
Preciso vê-lo, me disse o rapaz.
B) 
Este é um trabalho que absorve-me muito.
C) 
Em tratando-se frutas, prefiro as cítricas.
D) 
Tudo se resolve com o tempo.
3 . Complete os espaços da frase abaixo:
Quem _____________ estragado que __________ de ______________________.
A) 
o trouxe, encarregue-se, consertá-lo.
B) 
o trouxe, se encarregue, consertá-lo.
C) 
trouxe-o, se encarregue, o consertar.
D) 
trouxe-o, encarregue-se, consertá-lo.
4: Assinale a frase gramaticalmente correta, quanto a colocação pronominal.
A) 
Quando recebe-o em minha casa, fico feliz.
B) 
Por este processo, teriam-se obtido melhores resultados.
C) 
Tudo fez-se como você mandou.
D) 
Em se tratando disto, podemos contar com ele.

 5: (Santa Casa) Há um erro de colocação pronominal em:
A) 
Sempre a quis como namorada.
B) 
Os soldados não lhe obedeceram às ordens.
C) 
Todos me disseram o mesmo.
D) 
Recusei a ideia que apresentaram-me.

 6: (U.E. Maringá) O oblíquo O coloca-se proclítico (antes do verbo) nos períodos abaixo, exceto em:
A) 
Deus ___ livre ___ de um tropeço na prova!
B) 
Como ___ achou ___ ontem.
C) 
Não quis o rapaz aqui, ___ mandei ___ embora.
D) 
Talvez ___ encontre ___ na outra sala.
Parte superior do formulário
7 . Identifique nas frases a colocação pronominal, justificando-as. 

a) "Vou-me embora pra Pasárgada ..." 
b) Nunca me deram amor..
c) Nem tudo se compra.
d) Consumir-se-á a vida toda em palavras.
e) Recusou a proposta de emprego, fazendo-se de desentendida.

8. Qual das alternativas a seguir não traz exemplo adequado de colocação pronominal?
a) Me disseram que a vida acabaria cedo.
b) Furta-se-á a dizer a verdade sobre os sapatos novos e caros. 
c) Digam-me uma coisa: é possível ser feliz?
d) Ela quis comprar a vida, mas a vida não se compra.

9. Justifique os casos proclíticos das frase abaixo:

a) Isso me comoveu deverasmente. 

b) A pessoa que me telefonou , não se identificou.

c) Escrevia, conforme me lembrava. 

d) Aqui se brinca! 

e) Quem te disse que eu te amo?

10. (OMEC) Assinale a frase em que há pronome enclítico:

a) Far-me-ás um favor?
b) Nada te direi a respeito.
c) Convido-te para a festa.
d) Não me fales mais nisso.
e) Dir-se-ia uma incoerência.

11. (MACKENZIE) Assinale a alternativa que apresenta erro de colocação pronominal:

a) Você não devia calar-se.
b) Não lhe darei qualquer informação.
c) O filho não o entendeu.
d) Se apresentar-lhe os pêsames, faça-o discretamente.
e) Ninguém quer aconselhá-lo.

12. (MED. SANTO ANDRÉ) Assinale a alternativa em que todos os pronomes pessoais estão colocados corretamente, segundo o uso clássico da língua portuguesa:

a) Eu o vi, não lhe falei, darei-te o livro.
b) Eu o vi, falei-lhe, nada lhe direi.
c) Nada dir-lhe-ei, não o estimo, Deus ajude-nos.
d) Deus nos ajude! Não quero te ofender, mas vai-te embora.
e) Me dá o livro, que eu te devolvo assim que o ler.

13.Em que alternativa NÃO há erro na colocação do pronome?

a) Preciso vê-lo, me disse o rapaz.
b) Este é um trabalho que absorve-se muito.
c) Far-se-á tudo para que se salvem.
d) Não arrepender-se-ia de haver dito a verdade.
e) Em pondo-se o sol os pássaros debandam.



14. O pronome está mal colocado em apenas um dos períodos. Identifique-o: 


a) Finalmente entendemos que aquela não era a estante onde deveriam-se colocar cristais .
b) Ninguém nos falou, outrora, com tanta sinceridade .
c) Não se vá, custa-lhe ficar um pouco mais? 
d) A mão que te estendemos é amiga. 



REGRAS DE USOS DA CRASE

USOS DA CRASE
A palavra crase é de origem grega e significa fusão, mistura. Em gramática, basicamente a crase se refere à fusão da preposição a com o artigo feminino a: Vou à escola. O verbo ir rege a preposição a, que se funde com o artigo exigido pelo substantivo feminino escola: Vou à (a+a) escola.
A ocorrência de crase é marcada com o acento grave (`). A troca de escola por um substantivo masculino equivalente comprova a existência de preposição e artigo: Vou ao (a+o) colégio.
No caso de ir a algum lugar e voltar de algum lugar, usa-se crase quando: "Vou à Bolívia. Volto da Bolívia". Não se usa crase quando: "Vou a São Paulo. Volto de São Paulo". Ou seja, se você vai a e volta da, crase há. Se você vai a e volta de, crase para quê?
É erro colocar acento grave antes de palavras que não admitam o artigo feminino a, como verbos, a maior parte dos pronomes e as palavras masculinas.
A tabela resume os principais casos em que a crase deve (ou não) ser utilizada:
Caso
Uso obrigatório
Uso proibitivo
Uso facultativo
Antes de palavras masculinas
Quando estiver implícito “à moda de”: móveis à Luís 15;
Quando subentendido termo feminino: vou à [praça]João Mendes
Viajar a convite, traje a rigor, passeio a pé, sal a gosto, TV a cabo, barco a remo, carro a álcool etc.

Antes de verbos

Disposto a colaborar.

Antes de pronomes

Antes da maior parte deles: Disse a ela que não virá; nunca se refere a você.
Pronomes possessivos: Enviou a carta à sua família. Enviou a carta a sua família.
Quando "a" vem antes de plural

A pesquisa não se refere a mulheres casadas.

Expressões formadas por palavras repetidas

Cara a cara; ponta a ponta frente a frente; gota a gota.

Depois de "para", "perante", "com", "contra" outras preposições

O jogo está marcado para as 16h; foi até a esquina; lutou contra as americanas.

Depois de "até"


"Fui até a secretaria" ou "Fui até à secretaria"
Antes de cidades, Estados, países
Foi à Itália (voltou da Itália).
Chegou à Paris dos poetas (voltou da Paris dos poetas).
Foi a Roma (voltou de Roma).
Foi a Paris (voltou de Paris).

Locuções adverbiais, conjuntivas ou prepositivas de base feminina
Às vezes, às pressas, à primeira vista, à medida que, à noite, à custa de, à procura de, à beira de, à tarde, à vontade, às cegas, às escuras, às claras, etc.

Locuções femininas de meio ou instrumento: À vela/a vela; à bala/a bala; à vista/a vista; à mão/a mão. (Prefira crase quando for preciso evitar ambiguidade: Receber à bala).
Aquele, aqueles, aquilo, aquela, aquelas
Referiu-se àquilo;
Foi àquele restaurante;
Dedicou-se àquela tarefa.


Com demonstrativo “a”
A capitania de Minas Gerais estava ligada à de São Paulo;
Falarei às que quiserem me ouvir.